"Todos os meus versos são um apaixonado desejo de ver claro mesmo nos labirintos da noite."
Eugénio de Andrade

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Não me apetece...


 

Hoje não me apetece escrever

Nem sair, nem sonhar, nem ler.

Estou encapotado em mim mesmo

Rosnando na minha lura

Fria, húmida, viscosa, escura.

A crescer dentro de mim o negrume

Imposto por minha imposta clausura.

 

Hoje sinto asco de ser.

De pertencer à mesma miserável

Raça humana que com desumanidade 

Abaixo de animais

Arrosta as mulheres suas iguais

 

Não pode haver humanidade

Em quem isento de bravura

Vestido da mais chã vileza

Mulheres frágeis subjuga

A pretexto de sua ostensiva beleza

 

Cinco  brutas feras…

 

Num execrando ataque bestial

De uma jovem a vida deceparam

A coberto de impunidade usual

Sua frágil intimidade retalharam

 

Que ninguém me diga para esquecer

Que ninguém me diga para perdoar e não ver…

 

Pertencer à raça humana me recuso

A partir de hoje dela não mais farei uso.

Vou partilhar a casota do meu cão

É nele que reconheço meu irmão.