"Todos os meus versos são um apaixonado desejo de ver claro mesmo nos labirintos da noite."
Eugénio de Andrade

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

História Breve de uma Boneca de Trapos



Este mês o meu blog esteve votado ao abandono. Não consigo escorar-me em nenhum pretexto que eu considere suficientemente válido.Tentei duas ou três vezes escrever, pelo menos para o desafio proposto pelo "blog das Letras", mas deu-me uma angústia...Desisti.
Agora, já sem esse peso, não posso deixar de partilhar este belo poema de António Botto, subordinado ao tema " Indiferença". Aí vai ele...

Era uma vez uma boneca
com meio metro de altura.

Insinuante, bonita,
Mas pobremente vestida.

Um ar triste_ uma amargura
Diluída no olhar…_
Grandes olhos de safira
E um sorriso combalido
Como flor que vai murchar.

Quase a meio da vitrine
Lá daquela capelista
Essa boneca de trapos
A ninguém dava na vista!

Ninguém via o seu sorriso!

Ninguém sequer perguntava:
Quanto vale a “ marafona”?
Quanto querem p’ la “ Princesa”?

Passaram anos _ Com eles,
Foi-se a minha mocidade
E cresce a minha tristeza.

_ Quem é que dá p’la Boneca
Que os meus olhos descobriram
Lá naquela capelista
Quase à esquina do jardim?

_ Quem dá por Ela? Ninguém!

E quantas almas assim!