Agarrei os meus sonhos
Inflamados e cegos
Calquei-os aos pés
Arrastei-os pela lama
Injuriei-os amordacei-os
Sepultei-os
No mais secreto escaninho
Das grades da memória
Para se desvanecerem em pó
E lancei a chave no fundo
Do pântano lamacento.
Olhei em redor
E vesti meus rostos de mentira
E nela construí a minha verdade
Entre iguais
Diluí-me na multidão.
Dentro de mim ecoavam
Cânticos fúnebres
E de pedra se fizeram meus sentidos
E um dia vi que estava morta.
Mas o vento passou
E tudo à sua volta se agitou
E em volátil rodopio aspergiu
Brisas perfumadas leves e macias
E acordou murmúrios e lamentos
E suspiros e sussurros
Cicios de rezas encantatórias
Em meus sentidos empedernidos.
E veio chegando a chuva
Ressoaram tambores
Longínquas reminiscências
De ancestrais ciências
E dancei nua à luz da lua
Danças antigas e tribais
Contagiadas por estranhos rituais
No meu corpo sábio gravados
Desde tempos imemoriais
Emboscados
Em meus saberes ignaros
Bebi dos pingos de chuva
A poção dos druidas
Pelo vento convocados
Ergui-me da noite
Em sobressalto
Quebrei as grades
E soltei meus sonhos ao vento
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
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